Os livros do montanhista petropolitano Waldyr Neto nos serviram de trampolim para a criação do Viagens & Andanças. Suas belas fotos também nos inspiram a querer captar cada vez melhor as paisagens que encontramos em nossos caminhos por aí. Com os guias em mãos, fizemos a maioria das trilhas descritas nesse blog. Por isso resolvemos entrevistar essa figura ilustre do nosso montanhismo.
Waldyr, é um prazer recebê-lo no Viagens & Andanças!
1. O que te levou a se interessar pelas trilhas e montanhas e qual foi sua primeira caminhada?
Comecei a me interessar quando um vizinho, Fernando Funchal, estava de partida para um acampamento no Açu. Ele era guia do CEP – Centro Excursionista Petropolitano – e algumas semanas depois me levou para uma caminhada ao Cobiçado, que acabou virando uma Travessia Cobiçado – Ventania, minha primeira trilha. Era 1984 e eu tinha 14 anos.
2. Que tipo de trilha mais te atrai?Gosto muito de floresta e daquelas trilhas bem feitas seguindo as curvas de nível como a trilha original do Meu Castelo, Alto da Ventania e a descida para Santo Aleixo. Fico triste ao ver algumas dessas trilhas sendo substituídas por atalhos.
3. Você gosta de caminhar com grandes grupos ou prefere poucos participantes? Por quê?Acho legal caminhar em grupos. É mais tranquilo e divertido. Mas as grandes experiências são as caminhadas sozinho. São como um encontro com seus medos, pensamentos, etc. Com certeza tem um comprometimento maior e por isso não são recomendadas para os iniciantes.
4. Qual foi sua aventura mais memorável?
Difícil escolher uma. Em final de 2003 parti para uma viagem de bike pelo Nordeste com o Léo Horderbaum. 2.200km de pedal cruzando sete estados. Em 2006 dei a volta na Ilha Grande com a Gi (Gisele Rossignoli, minha esposa), o que foi uma experiência muito bacana, que nos aproximou mais. Este ano estive no Monte Roraima, um antigo sonho. Outros momentos marcantes foram minhas primeiras ascensões ao Dedo de Deus, Garrafão, Agulha do Diabo, Verruga do Frade e Pico Maior de Friburgo. Todos momentos marcantes.
5. Alguma que você gostaria de não lembrar?
Algumas excursões dão errado, como o meu aniversário de 40 anos percorrendo a Travessia Caxambu – Santo Aleixo. Depois de horas batendo facão desistimos e voltamos. Perdemos inclusive a festa. Mas é nessas horas que temos os grandes aprendizados. E no fim acabam ficando boas recordações dos perrengues que passamos com os amigos. Olhando desta forma acho que nunca tive uma excursão realmente ruim.
6. Se você fosse obrigado a percorrer a mesma trilha todos os meses, qual escolheria?
Até pouco tempo atrás escolheria o Morro Açu. Com a descaracterização do Açu com construções, placas, cruz, etc. e ainda os preços atuais do Parque, não tenho mais interesse em voltar lá. Assim, minha escolha é a minha primeira montanha, o Cobiçado. É realmente um lugar que eu gosto e volto sempre. No meu treinamento para o Monte Roraima subia o Cobiçado praticamente dia-sim-dia-não.
7. O que mais te incomoda na montanha?O desrespeito pelo ambiente natural. Abomino quem deixa lixo, faz marcas, pixações, abre atalhos, faz barulho excessivo, etc. Montanha bonita é montanha limpa, com som de vento, de chuva. Felizmente a maioria dos montanhistas e até o caminhantes eventuais estão mais conscientes hoje.
8. E o que mais gosta?
Gosto de ver um novo dia nascer lá de cima. É um momento mágico, que faz a gente esquecer de tudo e compreender que existe algo muito maior.
9. Já passou por algum aperto ou risco sério? Conte para nós!No meu primeiro acampamento no Açu tive forte hipotermia. Era 1985. Eu não tinha os equipamentos corretos e passei um grande aperto. Em 2001 estava conquistando uma via de escalada e levei uma queda que poderia ter tido sérias consequências. Por sorte só desmaiei, rompi alguns ligamentos e me ralei todo. Fora isso acho que corri os riscos normais das caminhadas e escaladas.
10. Qual seu maior sonho de montanhista (uma montanha, um lugar, equipamento, etc.)?
Durante muito tempo esse sonho foi escalar o Pico Maior de Friburgo. Treinei e escalei bastante para fazer essa subida de forma justa, guiando a vista (sem ter feito antes como segundo da cordada). Em 2005 eu realizei esse sonho e confesso que não tenho hoje um sonho novo. Tem lugares que eu gostaria de conhecer como o Monte Roraima (estive lá este ano), Chalten, Paine entre outros. Hoje tenho uma relação com o montanhismo muito tranquila. Uma simples subida ao Alto da Ventania para ver um por do sol é um grande momento para mim.
11. Que conselhos você daria aos iniciantes em montanhismo?Façam parte dos clubes, aprendam com os mais experientes. O montanhismo tornas as pessoas melhores, mas saudáveis, mais amigas.
12. Se pudesse, o que você mudaria no cenário do montanhismo brasileiro?
O montanhismo brasileiro está passando por uma séria crise. Muitos acessos às montanhas estão sendo fechados e muitas unidades de conservação tem regras demais, dificultando o montanhismo de alto nível. Tem também o crescimento do montanhismo comercial, que muitas vezes coloca o retorno financeiro acima da ética e do respeito ao ambiente natural. Por outro lado temos as federações de montanhistas se formando e se fortalecendo. Enfim, estamos num momento crucial e é de vital importância que os montanhistas ajudem a fortalecer os clubes e federações.
13. Você foi presidente do Centro Excursionista Petropolitano. Conte um pouco sobre essa experiência.
Foi uma época muito divertida. Acredito que eu tenha conseguido retribuir os ensinamentos que tive ao longo dos anos no CEP. No início você aprende com os velhos guias e depois você volta para transmitir esse aprendizado aos novos sócios. É um ciclo.
14. Seus guias de trilhas vêm ajudando muita gente a iniciar na prática do montanhismo. O que te levou a publicá-los?
Em meados de 2005 eu escrevia uma coluna para um jornal de Petrópolis chamada “Aventura da Semana”. Nesta coluna, que saia aos domingos, eu explicava como chegar em algumas cachoeiras e montanhas com acesso mais fácil. Quando a coluna acabou eu recebi e-mails de pessoas que estavam percorrendo esses roteiros toda semana. A “Aventura da Semana” foi o embrião do Guia de Trilhas de Petrópolis, que eu comecei a escrever em 2006. Outra influência foi a revista “Aventura Já” do Sérgio Beck. Essa revista era baseada na americana “Backpacker Magazine” que apresentava roteiros descritos em detalhes para que as pessoas os fizessem por conta própria. Nunca gostei das publicações que mostravam roteiros e depois listavam quem eram os guias e agências que operavam esse roteiro. Nada contra esse modelo, mas eu realmente queria apostar na curtição das pessoas em fazer uma aventura, seguindo um roteiro e um mapa.
15. Há planos para novos livros?
Escrever um guia de trilhas da região dos Três Picos sempre foi um sonho, pois é um dos lugares que eu mais visito e fotografo. Mas hoje realmente falta tempo. Ficarei feliz se conseguir lançar uma edição colorida do Guia de Trilhas de Petrópolis.
16. Sua maior alegria e maior insatisfação como autor dos livros?Quando peguei o primeiro exemplar do Guia de Trilhas de Petrópolis na gráfica fiquei realmente emocionado, com lágrimas nos olhos. Saí de carro levando os livros para as lojas e lembro que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Levei um livro para a minha mãe e depois um para o Seu Jair (Jair Amaral, amigão montanhista a quem dediquei o livro). A insatisfação é ter que fazer tudo de forma independente – escrever, diagramar, revisar, custear a impressão, vender, etc. Infelizmente o mercado editorial não se interessa por esse tipo de livro.
17. Todo montanhista acaba se interessando mais por fotografia. Com você não foi diferente. Quem acompanha seus trabalhos online percebe dedicação e qualidade cada vez maiores. Já pensou em fotografar profissionalmente?
Pois é, a ligação com fotografia é quase natural. No início você quer apenas mostrar para os amigos os lugares onde esteve. Mas em 1999 eu comprei minha primeira câmera reflex (de filme) e comecei a estudar fotografia mais a sério. Cheguei a fazer algumas fotos legais e até fiz exposições. Uma curiosidade é que numa dessas exposições tinha fotos de outros fotógrafos, incluindo um tal Flávio Varricchio, que eu não conhecia pessoalmente. Mas aí veio a fotografia digital e eu não curti. E também não estava disposto a vender meu equipamento de filme e comprar tudo de novo no digital. Mas em 2006, ao começar a fazer o Guia de Trilhas de Petrópolis, me rendi ao digital pela facilidade de fazer as fotos e já descarregar no computador para editar os roteiros. Comprei uma câmera digital compacta bem simples e foi o que eu usei durante uns anos. No final de 2009, perto do lançamento do Guia da Serra dos Órgãos, eu e o Ernesto (Ernesto Viveiros de Castro, co-autor) queríamos uma boa foto para a capa e consultamos o fotógrafo Flávio Varricchio. O Flávio gentilmente nos cedeu algumas fotos e acabamos nos conhecendo e ficando amigos. Influenciado pelo Flávio comprei um equipamento melhor e voltei com tudo para a fotografia. Desde então tenho feito muitas excursões voltadas para fotografar, o que significa fazer montanhismo de um jeito diferente, e principalmente em horários diferentes. Não penso em fotografar profissionalmente, pois não acredito que existe hoje um bom mercado para fotos de paisagens. Mas penso em eventualmente ter alguma renda com workshops de fotografia em montanha, com teoria e prática. Isso é um novo projeto.
18. Por favor, acrescente qualquer outro comentário que julgar relevante.Ao longo dos meus 28 anos de montanhismo posso dizer que conheci pessoas muito bacanas, incluindo vocês (Marcos e Camila).
Waldyr Neto
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Agradecemos o carinho do Waldyr e agradecemos também pela excelente contribuição que vem prestando ao montanhismo brasileiro.
Sobre Waldyr:
– Livro Expedição Pedal Brasil – Edição para Kindle
– Flickr
– Blog Magia da Montanha
– Blog do Guia de Trilhas de Petrópolis
– Blog do Guia do PARNASO
– Blog das Aventuras do Didi e da Gi
– Waldyr Neto Consultoria e Educação Empresarial
Compre os Guias do Waldyr Neto:
– Guia de Trilhas de Petrópolis (Preto e branco, com trilhas diversas em Petrópolis, incluindo a Travessia Petrô x Terê)
– Guia do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Colorido. Trilhas do PARNASO Petrópolis, Teresópolis e Guapimirim. Inclui a Travessia Petrópolis x Teresópolis)
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16 de dezembro de 2012 at 22:21Paul Kozelka
19 de agosto de 2012 at 22:45Acho que tem poucas pessoas como Waldyr que têm feito tanto para promover ao mesmo tempo uma boa imagem das aventuras possiveis nas caminhadas e escaladas, e um sentido da importância da natureza e nossa implicação e responsabilidade perante ela. É um fotógrafo exímio, um guia muito experiente e sensível, e um ótimo companheiro de corda. Parabéns ao site pela entrevista, e ao Waldyr pelo percuso tão bem succedido. Tomará que este inspiração continue servindo para amelhorar o desempenho de todos ao respeito dos recursos naturais !
um grande abraço,
Paul
Felipe Lima
25 de julho de 2012 at 00:50Legal… comprei o 1º livro “Guia de Trilhas de Petrópolis” do Waldyr em 2009. Desde pequeno costumava subir uma montanha aqui no meu bairro (Pedra do Retiro), sempre fui apaixonado pelo visual deslumbrante que só quem sobe a montanha sabe o que é, e quando vi o livro do Waldyr fiquei doido e comprei para poder explorar novas trilhas. Confesso que até hoje não coloquei esse plano em prática, mas pretendo sim, ainda esse ano, ir em outros roteiros deslumbrantes que ele descreve no livro.
Roteiros que pretendo apreciar esse ano: Pedra do Retiro (como faço todos os anos), Cobiçado e Açu.
Existe um sonho difícil mas não impossível, subir a Maria Comprida em Araras.
Camila Guerra
25 de julho de 2012 at 12:50Olá Felipe,
Obrigada pela visita!
Nós temos os dois Guias do Waldyr e, como falamos acima, usamos muito. Com os guias nós fizemos várias caminhadas sozinhos, sem problemas. Entre elas a Pedra do Retiro subindo pela Mosela. Acho que essa foi nossa primeira ou segunda trilha seguindo o livro.
Minha dica é: comece seguindo as trilhas fáceis do livro para você aprender como o guia funciona, como por exemplo, as distâncias entre uma dica e outra que o Waldyr dá no livro.
Em nossa trilha para a Pedra do Retiro andamos à procura do uma pedra que ele descreve, mas achamos que estávamos no caminho errado pois já tínhamos andado bastante e, voltamos achando que a pedra nos passou despercebida. Depois vimos que estávamos certos, só tínhamos que andar mais um pouco.
Coloque logo em prática esse plano. Vale a pena! ;)
[]’s
Felipe Lima
25 de julho de 2012 at 23:26É verdade, moro na Mosela, e todos os anos subo a Pedra do Retiro.
Nas próximas caminhadas que pretendo fazer em outras montanhas não vou sozinho, vou com um pessoal que já foi e por isso vai ser tranquilo, e não devo passar pelo que vocês passaram na Pedra do Retiro hehehe
Parabéns pelo site.
Mario Celso
24 de julho de 2012 at 17:08Esse da entrevista é o Waldyr “Didi”, sem dúvida. Respeitoso com a montanha, ele recebe de volta da montanha o privilegio de subí-la e vislumbrar anoiteceres que não tem preço e vistas deslumbrantes. De fato, subir montanhas nos transforma em pessoas melhores.
Camila Guerra
25 de julho de 2012 at 12:52Mário,
As paisagens que o Waldyr clica servem de inspiração para muitos, inclusive nós.
[]’s
Marcus Osório
24 de julho de 2012 at 13:35Gostei da entrevista . Conheço o Waldyr e sei da sua atenção , dedicação e esforço para traduzir e apresentar o espirito da aventura para os mais novos .
Camila Guerra
24 de julho de 2012 at 13:45Olá Marcus,
Obrigada pela visita!
A dedicação do Waldyr tem trazido muitos benefícios para todos os apaixonados pela aventura.
Vejo que hoje em dia o montanhismo tem atraído cada vez mais interesse aqui em Petrópolis e, certamente, com a ajuda dos guias que ele publicou.
No cenário brasileiro em geral, também tenho visto muito interesse. Espero que isso não só reforce a atividade em si, mas deixe as pessoas mais conscientes, respeitando a natureza e o ambiente que as cercam.
[]’s