Flávio conta pra gente um pouquinho de sua vida na fotografia e deixa dicas para quem quer se envolver nesse mundo cheio de beleza.
Confira essa entrevista inspiradora. Depois de lê-la, sua visão sobre a fotografia será outra. Divirta-se. ;)
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1) Primeiro, conta pra gente como você desenvolveu interesse pela fotografia e quando você decidiu ser fotógrafo?
Minha relação com a fotografia se resume nessa frase de um alpinista francês:
“… não ambicionava qualquer glória, e as mais modestas escaladas deixavam-me louco de alegria. Para mim a montanha não era mais que um reino maravilhoso onde, por qualquer mistério, eu me sentia mais feliz.”
Lionel Terray (1921-1965)
Mesmo sem entender nada de fotografia e inspirado pelas fotos que via em revistas como a Geográfica Universal e Terra, onde ficava fascinado pelas fotografias e dizia que um dia iria fotografar igual aqueles caras e conhecer os mesmos locais que eles, organizei minha “1ª expedição”, que foi uma caminhada de 1000 km pelas praias mais bonitas do Brasil, sendo que o meu guia de viagem foi o da Quatro Rodas sobre o litoral.
Fiz essa caminhada em algumas etapas, priorizando uma região em cada, onde levava minha câmera faz tudo, vários rolos de filme, sendo que os mais usados eram o Kodak Gold 100 e o Fuji Superia ISO 100, um rolo de esparadrapo para depois de cada filme terminado os catalogar com o nome do local onde as fotos foram feitas, e segui meu caminho de aspirante a fotógrafo desde então nesse esquema durante um bom tempo. Sem entender nada de fotografia, só tendo como referência as fotos que via em revistas. Sendo que quando do cancelamento de uma viagem ao sul devido a uma doença, com o dinheiro que tinha juntado para a viagem comprei uma Fuji S5000, isso aos 33 anos, quando aí sim, investi em um curso de fotografia e comecei a encará-la mais seriamente. 2) Há quanto tempo você trabalha como fotógrafo? Você fez cursos de fotografia ou estudou por conta própria?
Fotografo há oito anos, iniciei na fotografia mais seriamente ao comprar uma câmera digital compacta, em meados de 2004, e fazer um curso básico no Senac – Petrópolis, ministrado pelo amigo Alexandre Berner, a quem chamo desde então de professor.
Em 2005 fiz um curso de fotojornalismo no Ateliê da Imagem no Rio de Janeiro ministrado pelo fotógrafo Ricardo Gomes, e a partir daí o conhecimento que adquiri veio no contato com livros, com outros fotógrafos e muita prática, onde em cada saída que faço para fotografar aprendo algo novo, aprendizado que é constante e enriquecedor, seja na fotografia, seja na vida.
3) Você é especialista em fotografia de natureza. Nesse contexto, o que você gosta mais de fotografar?
Paisagens, especialmente as das montanhas.
4) Na fotografia, o que você definiria como sendo “sua casa”?Minha casa é na natureza com todas as suas peculiaridades, e no contato com alguns dos seus habitantes mais nobres, que são as pessoas com quem me identifico, admiro e respeito.
São nesses contatos que me sinto vivo e busco a simplicidade e paz tão necessárias para a minha felicidade.
Uso uma Nikon D300 com as objetivas Sigma 10-20, Nikkor 17-55 e Nikkor 80-200, e uma Canon G12 para fotos da flora onde o modo macro permite boa aproximação destacando os detalhes e para registros rápidos de viagem, enfim, fotos onde a portabilidade, a versatilidade e a discrição de uma câmera compacta fazem a diferença, já que nem sempre me animo a carregar uma mochila com todo o equipamento da DSLR.
6) E os acessórios que mais gosta de usar e os que acha indispensáveis?
Acessórios que uso são filtros – polarizador circular, um de 77mm que uso em todas as objetivas, sempre procurando avaliar o seu uso para evitar manchas no céu e a retirada de reflexos indesejáveis, nem sempre a retirada dos reflexos favorece as imagens, em certas situações o reflexo é que faz a foto e o polarizador não é bem vindo, e densidade neutra graduados no sistema Cokin para fotos de paisagem onde preciso equilibrar a luz em cenas de alto contraste, como o nascer/por do sol por exemplo -, um tripé leve, compacto e estável, uso tripé em praticamente todas as fotos de paisagem, um equipamento bem estabilizado permite fotos mais nítidas e precisas, e controle remoto, não usando o disparador da câmera para evitar algum tremor que prejudique a nitidez das imagens, especificamente com o uso da teleobjetiva 80-200, em conjunto com a trava de espelho.
É tudo que preciso.
7) Você acha que a fotografia atual deve aceitar pós edição ou deve permanecer intocada como foi tirada?
Desde os primórdios da fotografia as fotos são editadas, não vejo porque abriria mão de editar as fotos por algum purismo, ainda mais fotografando no formato RAW que entrega uma imagem crua, que deve ser “revelada” para extrair todo o potencial que esse formato permite.
Vejo a edição de fotos como uma ferramenta, as fotos como saem da câmera são um diamante bruto, a edição a lapidação.
8) O que te inspira no seu dia a dia na sua profissão?
Não vejo a minha fotografia como uma profissão, não tenho compromisso de trabalho com ninguém, só fotografo como, onde, quando quero e o que gosto. Posso ficar meses sem fotografar que nada vai mudar na minha vida.
Coloco algumas fotos que faço em viagens em banco de imagens e só, fotografia para mim é uma grande diversão, se tivesse que perder a minha liberdade, se tiver prazos, horários, responsabilidades, acabou a diversão, o que não quero.
Minha inspiração é o significado da minha fotografia, que é o de registrar a minha vida, contar minha história por imagens, o que fica e importa são as lembranças, memórias, que cada foto deixa, imagens que revendo me farão olhar para trás e me alegrar, é isso que busco ao fotografar, contar a história da minha vida, sem ambição de reconhecimento, recompensa e de glória, simplesmente o de ser eu, um querer sem desejo.
Com o passar dos anos adquiri um certo desprendimento em relação a muitas coisas, aqueles reflexivos e essenciais momentos solitários em que estive conectado a natureza e na companhia de bons livros, especialmente o do escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962), me ensinaram muito, neles tive a consciência que o caminho que trilhava nos primeiros anos de fotografia, anos que me preocupava com a opinião dos outros em relação ao que fazia, deixando de fazer em algumas vezes o que gostava para agradar algumas pessoas, não era o meu.
O meu caminho é o que percorro desde então:
o caminho do desapego a valores que enaltecem o ter, que alimentam o ego, que faz da vida um espetáculo banal, que reafirma dia após dia uma ilusória e vazia importância, de distanciamento das vaidades, o meu caminho não é o que me aprisiona, é o que me faz livre.
Vários, destacando 3 no exterior:
1- Karakorum, caminhada ao campo base do K2, passando pela geleira Baltoro, Torres Trango, Broad Peak, sem nenhuma dúvida uma dos lugares mais espetaculares do planeta, sonho de muitos que gostam de vivenciar as montanhas.
2 – Os Tepuis da Venezuela, em especial o Auyan onde fica Salto Angel, a maior cachoeira do mundo com 979m de queda d’água, e os localizados no maciço de Chimanta, Acopan principalmente, onde está localizada a maior caverna de quartzito do planeta.
Além dos Tepuis serem as montanhas mais antigas do planeta, é uma das regiões de maior biodiversidade do mundo, com muitos endemismos e espécies ainda desconhecidas da ciência.
3 – Travessia do Campo de Gelo Sul na Patagônia, em especial o trecho que passa pelo Monte Fitzroy ou Chaltén, e Cerro Torre, finalizando na Geleira do Viedma, e retornar a Torres del Paine, vivenciar a exuberante e extrema Patagônia novamente é algo que pretendo fazer.
No Brasil a Chapada Diamantina, as serras do Parque Nacional do Pico da Neblina, retornar em Urubici e demais cidades que estão nos limites e entorno do Parque Nacional de São Joaquim na Serra Catarinense, a região do Alto Ribeira onde está a maior área de mata atlântica do país, além de um roteiro pelos Parques Nacionais entre o Maranhão e o Ceará, são as minhas prioridades.
O porquê é que só viajo para lugares de natureza exuberante, onde a paisagem tem alma, história, onde o homem não expulsou a natureza do seu convívio, são nesses lugares que me encontro.
Quando em viagem ou simplesmente em uma saída para fotografar onde moro, sou tomado por uma disposição muito forte, minha curiosidade e inquietação são intensas, sabe aquela sensação que se tem quando se faz algo que vem lá do fundo do coração, que só de pensar faz o olho brilhar, é isso que sinto, é uma força que me impulsiona sempre em frente, em busca de uma percepção mais rica dos ambientes que permita com imagens transmitir o meu sentimento diante de tanta vida, beleza.
Talvez esse seja o meu desafio, o de transmitir sensações por meio de uma imagem, o de criar fotos duradouras, que permanecem interessantes após sucessivas visadas, já que fazer fotos bonitas é fácil, o desafio é fazer da fotografia algo permanente.
Paisagem:
Os americanos Galen Rowell (1940-2002), Ansel Adams (1902-1984) e Marc Adamus
Documental:
O brasileiro Sebastião Salgado e o inglês Steve McCurry
Esses são os meus fotógrafos favoritos.
Na fotografia de paisagem tenho também forte influência dos pintores viajantes naturalistas que percorreram o Brasil a partir do século XVI documentando suas paisagens e costumes.
Entre eles destaco:
Os alemães Johann Moritz Rugendas (1802-1858) e Karl Friedrich Philipp Von Martius (1794-1868) e o holandês Frans Janszoon Post (1612-1680).
12) Temos muitos leitores apaixonados por fotografia. Qual conselho você pode deixar para os que só querem tirar boas fotos como registro pessoal e os que querem seguir a carreira de fotógrafo?
Independente de a fotografia ser uma profissão ou lazer, a dica que deixo é que ela seja uma diversão, algo prazeroso.
Não fotografe por necessidade, por obrigação, para se auto-afirmar, por ostentação dos caros equipamentos, fotografe o que te diverte, o que você se identifica, o que te faz sentir mais vivo, faça da fotografia uma fonte de alegria.
Essa é a dica que deixo para quem quer começar ou já é fotógrafo, seja você.
Flávio Varricchio
http://www.flickr.com/photos/flavio_varricchio/
http://photo.net/photos/FlavioVarricchio
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Deixamos aqui nossos agradecimentos ao amigo Flávio Varricchio por compartilhar conosco um pouco de sua vida, sua obra e suas idéias e, claro, suas lindas e inspiradoras fotos!
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8 Comments
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26 de abril de 2013 at 23:03Celso Cotovia Pimentel
9 de março de 2013 at 12:21Caro, Flávio
Parabéns pela entrevista e as fotos.
Grande abraço
Camila Guerra
9 de março de 2013 at 13:33Repassando a resposta do Flávio Varricchio:
Obrigado Celso,
Agradeço também por vc fazer parte dessa história quando das conversas no fórum de fotografia e em Paraty.
Sandra M P Tulle
6 de março de 2013 at 03:07Adorei essa entrevista. É raro achar um fotógrafo que não passa o tempo todo se gabando do que faz. Gostei da simplicidade do Flávio. Dê a ele os parabéns, pelas entrevista e pelas fotos. O conjunto inteiro muito bonito.
Camila Guerra
6 de março de 2013 at 12:10Repassando a resposta do Flávio Varricchio:
Obrigado Sandra,
Simplicidade é a palavra.
Sou avesso a auto-promoção , gosto de ficar na minha fazendo o que gosto sem alarde, não coloco minhas fotos em um pedestal as achando o supra sumo e me ofendendo caso receba alguma critica ou me vangloriando dos elogios, minha relação com as imagens é a relação que tenho com a vida, de desapego, tudo é impermanente.
Talita Peixoto
5 de março de 2013 at 01:32Camila parabéns pela Entrevista. Apaixonada pela fotografia que sou me identifiquei muito com o Flávio, com sua forma de ver a natureza de descrevê-la e principalmente pelo amor no que faz. Não sou profissional minha câmera é semi profissional, mais a vontade e alegria que sinto quando pego ela para fotografar a natureza é indescritível. Senti isso ao ler essa entrevista. Uma paixão ou amor incondicional…sem condições, sem receber nada em troca. Apenas o prazer de fotografar. Abraços para Camila e Flávio. Já vou acessar o flickr rsrs
Camila Guerra
5 de março de 2013 at 01:47Oi Talita,
Obrigada!
As fotos do Flávio são absurdas de tão lindas e ficamos muito felizes quando ele aceitou fazer a entrevista pois sabíamos que o pessoal ia gostar muito.
Ele capta a “alma” dos locais… muito legal!
[]’s
Camila Guerra
6 de março de 2013 at 12:12Repassando a resposta do Flávio Varricchio,
Obrigado Talita,
Registrar a vida, essa é para mim a principal função da fotografia, o de registrar momentos que vivenciamos.
Só fotografo as belezas da vida, coisas boas, alegres, como as maravilhas da natureza e pessoas admiráveis que me identifico pela sua história de vida, só quero levar o que é bom dela, acredito que coisas boas sempre atraem coisas boas, esse é meu caminho.