Para abrir a série de posts sobre Mendoza escolhi um passeio diferente dos que normalmente fazemos em nossas viagens. O offroad no Land Rover do Juan Cruz que nos levou a quase 3.000 m de altitude pelas cadeias de montanhas da região, no sopé da Cordilheira dos Andes, foi um dos passeios mais bonitos e prazerosos que fizemos até aqui.
A amplitude da região dificultou bastante a tarefa de colocar em imagens uma imponência que não se deixa capturar com facilidade.
Enquanto planejava a viagem encontrei a página da agência Cultura Cercana. Fui atrás de opiniões e só li coisa boa no TripAdvisor.
Às 9h da manhã o guia nos encontrou no nosso hotel, o Villaggio Boutique (que recomendamos!) e seguimos de Land Rover por Mendoza, passando por Las Heras, região onde a cidade de Mendoza nasceu. Mais à frente na estrada está o monumento chamado Canota, representando de um lado a companhia do general Juan Gregorio de Las Heras e, de outro, a do general San Martín, que lutaram contra o domínio espanhol na América do Sul.
Nessa região estão localizadas a fábrica de cimento de Mendoza e a fábrica de propriedade da Danone onde são engarrafadas as águas de Villavicencio, uma das mais vendidas na Argentina. Essa aí da foto ao lado.
Depois de transitar por parte do asfalto na antiga estrada onde se fazia a travessia para o Chile, continuamos o caminho por uma estrada de rípio, passando pelo local onde filmaram 7 Anos no Tibet e adentrando pouco a pouco as montanhas. Logo paramos para fotos e Juan colocou bem ali, no meio daquele silêncio delicioso, a nossa mesa de café da manhã. Dá pra acreditar? Café, leite, suco de laranja, variados pães e media-lunas, água quente, chá, açúcar… Nada como um café quentinho no meio do nada, não é? :)
Entre paisagens inóspitas e belezas diversas, continuamos montanha adentro, subindo devagar e observando as características da fauna e da flora enquanto Juan nos contava curiosidades, aplicações e funções das plantas típicas dali e a história da região.
Sempre atento a tudo o que nos cercava e a todas as nossas necessidades e vontades, nosso guia nos ajudou a avistar condores e pássaros diversos, muitos guarnacos, chinchilas e até uma raposinha “gente-boa” que, já na descida mais para o fim do dia, posou para essa foto aí abaixo.
Por esse caminho, nenhum carro convencional tem vez pois é necessário vencer terrenos difíceis, na verdade, impossíveis para carros de passeio.
Depois de gastar um bom tempo clicando os bandos de guarnacos desconfiados que pastavam por ali, Juan abriu uma garrafa de Malbec Portillo, que eu e Marcos tomamos felizes enquanto curtíamos aquela paisagem pedregosa.
Seguimos entre as enormes formações rochosas que esculpem o local subindo e subindo até nosso destino. No caminho encontramos várias pedras grandes que rolaram da montanha e Juan explicou que a maioria delas se desprendeu na ocasião do último terremoto no Chile, que reverberou em Mendoza empurrando as pedras morro abaixo.
Essa parte do caminho é super árida, parece mesmo deserto de pedra. Cercados de formações rochosas interessantes seguimos caminho por um estreito vale vencendo a primeira parte dessa viagem.
Depois de passar pela primeira cadeia de montanhas (são três, no total, mas nesse tour só passamos por duas), alcançamos a segunda, onde a nevasca dos dias anteriores havia salpicado de branco ainda mais o tom marrom claro daqueles cerros. Uma paisagem deslumbrante com caminhos levemente marcados pelos poucos pneus que transitam por ali.
Exclusividade é a palavra que rege esse passeio. Apenas três pessoas “importunavam” a montanha além de seus habitantes naturais: eu, Marcos e nosso guia. Ninguém mais!
Já no topo da segunda cadeia de montanhas chegamos à Cruz de Paramillos e, um pouquinho mais acima, ao Mirador del Aconcágua.
O “teto das Américas” está a 80 km de distância do local em que estávamos e mesmo assim tive vontade de ficar por ali o resto do dia namorando a paisagem. Mas o estômago já colava nas costas e pedia comida. Era hora de almoçar.
Descemos um pouco até o abrigo que funciona como restaurante e recebe os turistas do offroad, das minas de Paramillo e das tirolesas. Lá, Juan abriu outro vinho. Dessa vez um ótimo Cabernet Sauvignon Carrascal. Tudo isso já estava incluído no preço que pagamos pelo passeio.
De entrada comemos empanadas de carne, das melhores da região e, em seguida, um assado (churrasco) delicioso com batatas cozidas na churrasqueira, salada e vinho. De sobremesa, salada de frutas e para fechar o pacote todo, arrematamos com um café. Afinal, precisávamos estar despertos para clicar bastante a paisagem da volta.
Retornamos à estrada de rípio e paramos nessa placa aí abaixo. Uma homenagem ao bicentenário do trabalho “Origem das Espécies”, de Darwin, o famoso pesquisador que visitou a região e identificou uma floresta de árvores fossilizadas. Ainda há por lá alguns resquícios da localização desses exemplares.
Seguimos então para as Minas de Paramillo, um outro sítio interessantes e com uma paisagem linda. Ficamos ali por fora ouvindo as explicações do Juan e tirando fotos. Nada de entrar em mina. Não mesmo.
Os primeiros a montar assentamento na região foram os Jesuítas, que construíram fornos para fundição de metais como ouro e prata que eram então carregados em lombos de mulas até o Chile. São apenas ruínas, mas com as explicações do guia e um pouquinho de criatividade a gente consegue imaginar a imponência e a importância do lugar para os idos de 1600-1700.
Muitas histórias e lendas depois, com peninha entramos no carro para começar a descer a montanha ao encontro do caminho das 365 curvas da reserva natural de Villavicencio. Este, um caminho que agora fica dentro da Reserva Natural de Villavicencio, já foi a rota de maior importância entre Buenos Aires e Santiago do Chile. Com a construção da atual Ruta 7, o caminho das 365 curvas perdeu a relevância e, consequentemente, o movimento, levando o Hotel Villavicencio, um dos atrativos da região, a fechar suas portas logo em seguida. Na foto abaixo o hotel aparece lá embaixo, no cantinho inferior esquerdo.
Um pouquinho no caminho e avistamos o simpático zorro da foto aí acima e mais um grupo de guarnacos.
As montanhas nevadas da descida formaram um espetáculo à parte, que foi ganhando um tom amarelo ouro à medida em que o sol descia no horizonte.
Paramos, montei meus apetrechos fotográficos e ficamos ali um tempinho tentando uns clique aqui e ali. Era hora de enfiar as luvas e o casaco impermeável. Pra ajudar a esquentar, Juan serviu um café quentinho enquanto namorávamos aquelas montanhas e aqueles caminhos.
A noite começou a cair e era hora de voltar para o hotel. Uma pena. Se eu pudesse moraria nesse offroad, nessas montanhas e no abraço da natureza mendocina que descansa tranquila com a bênção dos Andes.
Depois de tantos elogios sobre o tour com o Juan, ainda tenho mais alguns porque foi tudo realmente impecável. A nosso dispor havia água, café, lenços, roupas de frio, alimentos, vinho e até binóculos. Além, é claro, de cuidado, simpatia e muita, muita boa vontade. Este é um tour para ficar guardado na memória. Daqueles que fazem o nosso dinheiro valer mais, nosso tempo ter mais importância e nossa viagem ter mais magia.
Esse é um tour exclusivo, adaptado à necessidade do visitante e fora do roteiro convencional que a grande maioria dos turistas percorre e, justamente por isso, tem um custo um pouco mais alto. Pode ser feito com uma, duas ou mais pessoas, ou até em grupos.
Para quem estiver na dúvida sobre as semelhanças entre esse passeio e o convencional da Alta Montanha, saiba que não há nenhuma. São regiões distintas, paisagens díspares e outros ares. Há sim um passeio na região que sobe pela Ruta Nacional 7 e desce por Villavicencio, mas ainda assim esse tour offroad difere do passeio mencionado.
Se gostou do que viu aqui e vai visitar Mendoza, dê-se esse presente. Confira com seus próprios olhos pois essas fotos não capturaram sequer metade da beleza da região e muito menos ilustra a competência dos profissionais por trás de tudo isso. Esse offroad é daqueles passeios imperdíveis que a gente encontra bem de vez em quando e guarda pra sempre no coração. Vale a pena!
Confira nosso vídeo desse passeio:
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Leia outros posts sobre Mendoza:
– RJ Viñedos em Luján de Cuyo – Mendoza, Argentina
– Bodega El Enemigo em Maipú
– Cruzando a Alta Montanha pela Ruta 7 na Cordilheira dos Andes
– Bodega Andeluna no Vale do Uco
– Bodega Belasco de Baquedano com almoço harmonizado em Luján de Cuyo
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8 Comments
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26 de julho de 2019 at 14:14cleverson
22 de janeiro de 2018 at 12:45Bom dia Camila…
Meu nome é Cleverson desculpe te atrapalhar ,mas estava lendo no Mochileiros um poste de sua viagem que vcs fizeram em 2017 para Mendoza,Show estou indo para mendoza agora dia 03/02/2018 com minha família com uma S10 4X4 só ira passar lá 1 dia, depois que li seus relatos vou ficar lá 4 dias.
Pode me indicar alguém para fazer esses passeios com meu carro?
O custo desse passeio 4×4 é muito caro? Fazer Potrerilhos e Aconcágua consigo fazer sem guia? Digo isso que vamos em 4 pessoas, filha esposa e mãe e só eu quem vai pagar tudo preciso economizar um pouco pq vou viajar 25 dias vou para Atacama e uyuni tbm aí o dinheiro não da rssss.Primeira viagem de carro tão longe.
Muito obrigado desda já.
Att
Cleverson.
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10 de julho de 2017 at 23:06Pingback:
3 de julho de 2017 at 22:55Pingback:
3 de julho de 2017 at 22:49Pingback:
6 de junho de 2017 at 14:18Romulo Valente
26 de maio de 2017 at 23:15Oi Camila,
Muito legal esse tour !!! Podes passar os contatos do Juan e se possível nos passar uma idéia do custo deste programa ???
Parabéns pela publicação !!!
Um abraço
Camila Guerra
27 de maio de 2017 at 00:41Olá, Romulo!
Obrigada pela visita! Realmente o tour é muito bacana.
No site da agência Cultura Cercana você tem os contatos e os valores atualizados desse passeio (varia dependendo da quantidade de pessoas) e de outros passeios deles, dá uma olhada: http://www.culturacercana.com.ar/mendoza-private-off-road-tour-feeling-the-andes-mountains
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