A Escócia é daqueles lugares de clima temperamental que esconde por trás de suas águas torrenciais e de sua atmosfera misteriosa uma natureza forte e uma história inspiradora.
Depois de dois dias de muita chuva na bela Ilha de Skye dirigimos sem parar, ainda sob a tutela das nuvens de chuvarada, até quase chegarmos a Inverness. Essa malfadada intempérie nos tirou do plano A, que era pegar a estrada de montanha conhecida como Bealach Na Bà, que cruzaríamos apreciando belíssimas vistas compostas por montanhas, paredões de pedra e o mar, até o vilarejo de Applecross, percorrendo, em seguida, o pouco explorado litoral da região, passando por Torridon, Kinlochewe e, enfim, chegando a Inverness.
Embora não tenhamos percorrido esse ambicioso trajeto, fica aqui a dica para você investigar, caso seja adepto às road trips pouco convencionais. Mas lembre-se de que vai precisar do dia todo para percorrer esse caminho e, de preferência, faça isso no verão, quando anoitece mais tarde. Se tiver um tempinho a mais, sugiro pernoitar em algum dos vilarejos litorâneos e partir para Inverness no dia seguinte.
Por conta das chuvas, pegamos, em vez disso, a A890, que corta diversos pequenos vilarejos bem típicos da região. Boa opção para quem busca uma estrada mais interiorana e menos perigosa que a Bealach na Bà. Embora sem grandes vistas, a A890 é muito bonita e corta vários pequenos lagos, com diversos trechos de estrada bem estreitos, com passagem para um único carro, e os famosos recuos para passagem do trânsito. Lembrete muito importante: esses recuos são para passagem dos carros, não pode parar ali para tirar uma foto rapidinho, ok? De jeito nenhum. Nunca. Bem, seguindo a A890, emende na A832 e, enfim, pegue a A835 até Inverness. Recomendo essa opção para os aventureiros que desejam algo além da óbvia (e mais movimentada) A82 que margeia o famosíssimo (e pouco atrativo) Lago Ness, mas que não pode, ou não quer passar pela Bealach na Bà.
Vale lembrar, no entanto, que não há nada nesse trecho além de algumas fazendas e casas aqui e ali, por isso, leve água, pequenos lanchinhos e abasteça o carro antes da viagem. Chovia a cântaros e, por isso, vamos ficar devendo fotos desse caminho.
Já na A835, faça uma parada para visitar as Rogie Falls. Se tiver tempo de sobra, pode explorar a área, atravessar a ponte sobre as quedas e desfrutar um pouco mais da natureza. É um bom lugar para um lanche.
No lugar há estacionamento, banheiros e as quedas d’água ficam bem próximas do estacionamento, acessíveis por um bonito e curto caminho pela mata. Coisa simples. Vale o descanso da viagem.
Inverness nos recebeu com uma linda tarde ensolarada e uma noite muito agradável. A cidade é uma graça. Cortada pelo caudaloso Rio Ness que, sim, desemboca no famoso lago de mesmo nome onde, supostamente, avistaram o monstrinho mais conhecido da Escócia, Inverness nos conquistou logo de cara.
(E sobre o monstro do Lago Ness, a história é muito antiga e há séculos faz parte do imaginário coletivo do povo das terras altas escocesas.)
Se puder, hospede-se às margens do rio. Ficamos no Talisker Guest House, às margens do Rio Ness, pertinho do Castelo de Inverness e do centrinho da cidade, em uma rua adorável, muito tranquila e próxima a bares, restaurantes e comércio em geral.
O interior do castelo não é aberto ao público, somente seu exterior e sua torre (são 5 euros para subir) podem ser visitados. Do pátio do castelo já se tem uma boa vista para a cidade e para o Rio Ness, portanto, talvez seja mais interessante guardar esses euros para gastar no pub.
Inverness é uma cidade relativamente pequena, menos montanhosa do que algumas outras cidades das Highlands escocesas, o que facilita para quem gosta de conhecer tudo (ou uma parte) a pé.
Há por lá muitos pubs e vários oferecem música típica escocesa, encerrando em grande estilo a noite das Terras Altas. Recomendo relaxar e divertir-se experimentando uma das muitas excelentes cervejas da região ao som da gaita-de-foles e da rabeca no ótimo Hootanannys. Se quiser comer algo e assistir a tudo sentado, reserve uma mesa com antecedência.
Ficamos somente um dia inteiro em Inverness, que reservamos para conhecer o Castelo de Urquhart. Nas proximidades, ao leste, estão dois sítios históricos que optamos por não conhecer (porque preferimos conhecer a cidade em si): Clava Cairn (que acredita-se ser um antigo cemitério) e o campo de Culloden, onde ocorreu a histórica Batalha de Culloden, a cerca de 5 km, também a leste de Inverness. Este último tornou-se muito popular com o sucesso dos livros e da série Outlander (de Diana Gabaldon), que se passa nessa região. Não há muito o que se fazer no lugar, mas ele tem uma grande importância histórica para o povo escocês, que ali perdeu mais uma batalha contra os ingleses, além das vidas de cerca de 2000 de seus homens, dizimando clãs inteiros.
O centro comercial de Inverness conta com um abundante comércio e muitas opções de refeição, além de um número impressionante de igrejas de diferentes estilos. Se turistar por igrejas fizer parte da sua lista, aproveite!
Reserve um tempinho para passear pelas ruas charmosas da cidade, conhecer o Victorian Market, comprar umas lembrancinhas das Highlands e, quem sabe, “tomar mais uma”.
Castelo de Urquhart
Localizado em Drumnadrochit, a cerca de 30 minutos de Inverness e às margens do Lago Ness, o local conta com um bom estacionamento, mas se você não tiver um carro em mãos, pode contratar um tour com alguma agência da cidade ou ir de ônibus (linha 919, se não me engano). A entrada é paga (12 euros quando fui).
Urquhart é daqueles locais dos quais você não consegue sair incólume. Construído no Século XIII, conquistado, perdido e reconquistado diversas vezes, especialmente por conta de sua localização estratégica, o castelo presenciou grandes batalhas e a perda de inúmeras vidas.
Entre seus senhores mais conhecidos está o lendário Robert de Bruce, um dos reis da Escócia. Urquhart foi parcialmente destruído em 1692 para evitar que fosse usado pelos Jacobitas em sua luta contra o domínio dos ingleses.
A população local foi, ao longo dos anos, usando as pedras do castelo para erguer suas casas e, assim, Urquhart viu seus piores dias.
Quando tornou-se propriedade do Estado Escocês, foi transformado em sítio histórico e hoje é uma das ruínas mais visitadas da região.
Há placas explicativas espalhadas pelo sítio que contam a história daquela construção.
Do seu pequeno porto partem passeios de barco pelo Lago Ness, mas já aviso, prepare-se para o vento frio que jamais abandona a região. Leve um casaco corta-vento e, se for no inverno, não se esqueça de levar um bom gorrinho.
No centro de visitantes do castelo há uma cafeteria, banheiros e uma loja de souvenirs. Em Drumnadrochit há estacionamento, algumas opções de restaurante, mesinhas para piquenique e o centro de visitantes do Lago Ness.
Inverness foi, sem dúvida, uma das cidades que mais me encantaram na Escócia.
Tranquila, segura, linda, histórica, inserida em uma região belíssima que tivemos a felicidade de explorar durante dez dias bastante chuvosos por esse belo país. A Escócia não tem explicação. Vá, visite e encante-se, porque lá é a terra da magia.
Outros artigos sobre o Reino Unido:
– Ilha de Skye, nas belíssimas Highlands da Escócia
– Como planejar uma viagem para o Reino Unido
– A experiência de dirigir no Reino Unido, na mão invertida
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17 de abril de 2020 at 19:15Pingback:
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